Novata Truxt levanta R$5,6 bi em 6 meses – Valor Econômico, 10 de janeiro de 2018

O mau tempo em Nova York não tirou o humor de José Alberto Tovar, sócio-fundador da Truxt Investimentos. No intervalo de uma de suas idas e vindas do aeroporto para tentar voltar para o Brasil, em meio a tempestades de neve na Costa Leste americana, o executivo falou com o Valor por telefone e exibia boa disposição ao fazer um balanço da sua nova gestora. Em seis meses, até dezembro, a casa conquistou um patrimônio de R$ 5,6 bilhões.

Ao fim de novembro, figurava como a 61ª maior gestora no ranking da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), segundo os últimos dados compilados pela entidade. Aparecia à frente de nomes mais longevos no mercado como a Ibiúna, dos ex-BC Rodrigo Azevedo e Mario Torós; Mauá Capital, de Luiz Fernando Figueiredo; Canvas, do ex-credit suisse Antonio Quintella; ou Claritas, ligada ao americano Principal Group

Por trás desse fluxo, de quase R$ 1 bilhão ao mês, está uma equipe já conhecida, originária da ARX Investimentos, casa que Tovar fundou em 2001 e vendeu para o BNY Mellon em 2007, permanecendo no seu comando. Quando venceu a cláusula de não competição em 2016, a ideia era transferir os fundos da ARX para uma nova gestora em sociedade com o próprio banco americano, num modelo de “partnership”, parecido com o selado entre o Credit Suisse e a Verde Asset Management, de Luís Stuhlberger. Mas a conversa não foram adiante.

Ao criar a Truxt em junho passado com Bruno Garcia, executivo-chele de investimentos, Tovar levou consigo  do antigo time, entre eles Alexandre Gorra, estrategista sênior, Mariana Dreux, co-gestora das estratégias macro junto com Rafael Vasconcellos, Renata Tinoco, chefe de distribuição de atacado, e Carla Varela, do compliance.

De lá para cá, houve reforço de outros nomes, com o total chegando a mais de três dezenas de pessoas. A lista, conforme o site da Truxt, inclui Jander Medeiros, ex-analista de renda variável da JGP, Aristóteles Nogueira, com a mesma função na Opportunity, além de André Duarte, que era economista sênior para mercados internacionais no Brasil Plural, e Bernardo Valle, ex-gestor responsável pela análise de mercados da América Latina na SPX Investimentos.

O perfil dos executivos molda o espectro que a Truxt pretende ter, adicionando aos fundos existentes mais estratégias internacionais, por exemplo.

E depois de chegar ao público mais endinheirado pelos escritórios de “familly office” ou do “private bank” de instituições como Credit Suisse, Itaú, J.P. Morgan e Safra – como é possível filtrar na base de dados da Morningstar -, a ideia agora é atrair o investidor estrangeiro por meio de um fundo “offshore” e o institucional.

Após o Conselho Monetário Nacional (CMN) flexibilizar as regras para aplicação dos fundos de pensão, a expectativa é que, ao longo do tempo, algo entre 20% e 30% do negócio da Truxt venha desse tipo de cliente, estima Tovar.

A Truxt também vai seguir os passos de outras casas independentes e fará incursão no ramo de previdência. A intenção é ter dois fundos já no primeiro trimestre, um multimercado macro e um de ações. “Com juros reais mais baixos, a melhora da portabilidade, a gente vê a possibilidade de o cliente de previdência ir para gestoras com mais expertise”, diz Tovar. “O brasileiro talvez tenha de se acostumar a um período grande de juros reais baixos, o que os mercados desenvolvidos vêm vivenciando. Se for verdade, ele vai se encaminhar mais para o mercado de ações.”

A gestora nasceu com quatro estratégias e na largada todas tiveram bom desempenho: um multimercado macro, que rendeu 168% do CDI nos primeiros seis meses; um long-short (de arbitragem), com ganhos de 172%; um long-bias, que calibra a exposição em ações conforme o cenário, com 377% do referencial; além de um portfólio de ações de valor, com retorno de 24,3%, dois pontos acima do Ibovespa no período.

O long-short fechou para captação nas primeiras semanas, com R$ 1,3 bilhão, e o long-bias, que hoje reúne volume similar, deve ter o mesmo destino quando atingir algo entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões, sinaliza Tovar. “A gente espera alguma volatilidade do front político. Por isso, para manter a agilidade, o fundo não pode crescer muito”, diz o executivo.

Ao longo do ano passado, o fundo macro ganhou com posições atreladas aos juros brasileiro e americano, apostando na alta das taxas curtas dos EUA, descreve Tovar. Nos portfólios de bolsa, o grupo de ações escolhido também frutificou. Na carteira do long-short, a maior proporção do risco, por exemplo, estava, ao fim de setembro, em títulos do Tesouro e em papéis do Magazine Luiza e do Bradesco, com a parcela em renda variável em 26%.